O ‘R’ uvular (como o pronunciado em carro) já foi há muito tempo mais que dominado pelos dois artistas cá de casa. A novidade que agora se ouve é o som delicioso (sim, parece música para os meus ouvidos de mãe orgulhosa) do ‘R’ alveolar (como em caro), a mais recente conquista fonética do artista nº1.
E tem sido giríssimo ver o seu ar triunfante quando repete na perfeição as palavras «amarelo», «verde» e «vermelho» (preto e branco já nem tanto...); «pirata», «mar», «barco» e «tubarão»; «Maria», «Catarina», «Zacarias» e «Carolina»; «girafa», «orca», «morsa», «gorila», «caranguejo»; «gormitis», «floresta» «ar» ou «cavaleiro misterioso».
Resumindo, e porque os exemplos são mais que muitos, quando o dito ‘R’ se segue a uma vogal a sua pronúncia é perfeita. Mas quando é precedido por uma consoante... a coisa complica-se! E se, nalguns casos, já quase conseguiu dar a volta à questão, noutros nem tanto...
Não têm sido raras as ocasiões em que o oiço recorrer à célebre expressão “deixa-me dizer como eu quero”. Chegou mesmo a tornar-se reacção sistemática às minhas implacáveis emendas em situações como “és tu que dorbas” (dobras) ou “vou fazer um buraco muito garnde” (grande).
O rapaz não gosta propriamente de ser corrigido (e eu reconheço que também sei ser uma chata!) mas vai desenvolvendo os seus esforços e, à custa de tanto tentar ensinar o irmão, lá vai aperfeiçoando a dicção enquanto, simultaneamente, me presenteia com cenas como esta:
o mano (cantando, muito concentrado e determinado, «O Balão do João»): “(...) mas o vento a sopále...”
ele (muito pronto na (in)correcção): “Não é assim que se diz! Achas que é «sopále» que se diz? É sorpar!!”
Mas, para mim, o melhor ‘R’ alveolar que pode existir é aquele que, com um abraço apertado e na sua voz doce, surge, juntinho ao meu ouvido, na frase “Eu adoro-te, mãe!”.
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