Dia Mundial da Criança.
Dia 1 de Junho de 2009, 8h15 da manhã, a 45 minutos da hora limite para chegada à escola (é assim que cá em casa chamamos ao infantário - sentem-se mais crescidos).
Dia de «passeio» à festa organizada pela Junta de Freguesia; dia em que não podem mesmo chegar atrasados.
Estou eu na casa de banho a ajudar o Artista nº1 quando oiço, muito ao longe, a voz meio aflita, meio surpreendida, do Artista nº2: "Oh! Olha... Ó mãeeee, olha!!"
A porta da cozinha encostada, ele do outro lado.
"Não pode ser coisa boa" - já lhe conheço bem os «olhas!».
Assim que a abro e dou um passo sinto o meu pé mergulhar num líquido viscoso e pouco fresco. "Mas porque raio me vieste para aqui fazer um xixi?" - é a primeira coisa que me passa pela ideia.
Sem me atrever a mover-me, chamo o Artista nº1 e peço-lhe que me traga o rolo do papel. Mas tal é a prontidão e rapidez com que me acode que, ao chegar perto de mim, mete também ele a pata na poça, escorrega, e ei-lo estatelado ao comprido de rabo e costas no meio do... óleo! Só aí é que percebo - "isto afinal é óleo!".
E aqui temos um lindo quadro: eu, de pés escorregadios, a sentir o chão a fugir-me; ele aflito e ensopado de ponta a ponta; e o outro olhando para aquela cena sem saber bem o que fazer, mas com ar de quem pensa - "Mas como é que uma coisa destas foi acontecer assim, espontaneamente, do nada? Sim, que eu não tive nada a ver com isso, só vim ver se o que estava no garrafão era água, que estou com muita sede e não queria incomodar ninguém."
Na minha cabeça há uma frase de seis palavrinhas que se repete incessantemente:
"É desta que eu fico doida!".
Enquanto faço os impossíveis por manter a calma e resolver a situação é este o diálogo que se trava:
A.nº1 - "Entornaste o óleo..."
A.nº2 - "Não entonei nada!"
A.nº1 - "Entornaste sim! E quando eras pequenino também. Já entornaste o óleo duas vezes. Isso não se faz!"
A.nº2 - "É água."
A.nº1 - "Não, é óleo."
A.nº2 - "Água."
A.nº1 - "É óleo. Vês, é amarelo. É óleo amarelo."
A.nº2 - "Queli bebêle o óleo!"
A.nº1 - "Ó mãe, ele está a dizer que quer beber o óleo!! É tonto!"
Eu (já mais que farta de ouvir a palavra óleo e quase a perder a razão) - "Isso é porque ele não sabe que o óleo não é bom para beber."
A.nº2 - "Queli bebêle o óleo!"
A.nº1 - "Isso não presta, A.. Não é bom para beber."
Eu - "Vá, filho, anda lá tomar banho."
A.nº2 - "Também queli tomá banho!!"
Eu (em pensamento) - "Socorro, tirem-me deste filme!!!"
...
Por incrível que pareça lá conseguimos, em menos de nada, tratar do banho do Artista nº1 (que, mesmo assim, e por bastante gel de banho que tenhamos usado, ficou bem hidratadinho o resto do dia), dos pequenos almoços e da roupa dos três, e às 9h00 em ponto lá aparecemos à porta da «sala verde» com tudo pronto para o passeio.
Claro que a casa ficou um caos, com toalhões de banho estendidos sobre o derrame para podermos passar sem nos esparramarmos naquilo, e tudo quanto é chão (safaram-se os quartos, vá lá!) patinhadíssimo, com pegadas de todos os tamanhos aqui, ali e acolá.
Foi o meu presente neste dia.
Em jeito de "vá, façam lá a vossa porcariazinha hoje, que isto não pode ser todos os dias"!
Enquanto limpava a chafurdice ia ouvindo a festarola pela janela aberta da cozinha e cantando (para mim mesma) com a miudagem, que gritava entusiasmadíssima, o "atirei o pau ao gato" e "eu perdi o dó da minha viola", com a satisfação de saber que, pelo menos para eles, aquele dia estava a ser diferente, especial, e uma valente diversão.