Tão magnífico quanto aterrador, bateu-nos à porta, o fogo.
Chegou num dia que era de celebração, invadiu-nos a festa e chamou a si os homens que, por verem ameaçada toda uma vida de projectos ou por simples solidariedade, correram a tentar aplacar-lhe a ira.
Foi uma noite de perigo, de luta, de medo, de revolta, de ansiedade, de sofrimento e de espera.
Enquanto as mulheres disfarçavam (melhor ou pior) o nervosismo e as crianças lhes adivinhavam a inquietação, maridos e pais embrenhavam-se numa nuvem de destruição e, com tamanha obstinação que lhes venceu a impotência, conseguiram impedir que o vil devastador lhes consumisse o que protegiam.
O dia seguinte amanheceu ainda sem seguranças. O cenário desolador era feito de negro e de cinzas, pontuados aqui e ali por laranjas ardentes em oliveiras centenárias.
Entardeceu e os guerreiros, agora guardas, viram a ameaça apagar-se e puderam finalmente ceder ao apelo dos seus corpos, famintos de alimento e repouso.
Ido o terror, esperam-se as chuvas, que trarão à ruína a esperança da renovação.
E, passado o agreste inverno, uma explosão de verde erguer-se-á dos despojos para nos demonstrar uma vez mais a força inigualável da Natureza.